Você sabia que os Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) são sempre considerados contaminados? Por isso, independentemente do contato com fluidos biológicos, o descarte de EPI contaminado precisa ser feito de acordo com regras especiais.
Para isso, é importante classificá-los de acordo com o perigo que oferecem para as pessoas envolvidas em toda a cadeia de gestão de resíduos. Afinal, um simples erro pode espalhar doenças e até contaminar o meio ambiente.
Mas, além da categorização, também é necessário seguir outras práticas. Quer saber quais são elas? Acompanhe o post e veja como garantir o cumprimento da regulação.
Como descartar EPI contaminado?
O processo deve ser feito com muito cuidado e atenção. Para que você não tenha dúvidas sobre como realizá-lo, listamos um passo a passo completo para descartar corretamente os EPIs contaminados.
1. Divida em classes
Os EPIs contaminados por materiais biológicos, químicos ou radioativos podem ser agrupados em duas classes:
- classe I — são aqueles potencialmente perigosos, pois trazem riscos elevados de contaminação para as pessoas que manuseiam o descarte desde o armazenamento até a destinação final. Para reduzir o risco, sempre que um espaço tiver agentes químicos, físicos, biológicos ou radioativos perigosos, é necessário ter dois locais para descarte de EPI pelo colaborador: um para lixos comuns e outro para materiais que entraram em contato com fluidos corporais potencialmente contaminados. Os EPIs, portanto, devem ser descartados no segundo tipo;
- classe II — são considerados não perigosos. Por exemplo, de forma geral, abrange os descartes produzidos nas áreas comuns dos hospitais em que não há assistência direta ao paciente.
Vale lembrar que os resíduos classe I são manipulados sempre de maneira separada dos descartes de classe II, para evitar a contaminação. Para isso, devem ser armazenados em cômodo próprio e protegidos contra a circulação de pessoas não autorizadas e animais. O recolhimento dos EPIs é feito por um serviço especializado, cuja disponibilidade varia de município para município.
Para evitar a sobrecarga das operações de descarte especial, é preciso classificar adequadamente o rejeito de acordo com seu uso efetivo. Por exemplo, uma luva cirúrgica que foi descartada antes de ser utilizada no manuseio do material contaminado pode ser descartada no lixo comum.
Por outro lado, uma luva emborrachada para limpeza de áreas contaminadas deve ser considerada classe I. Então, a classe não é determinada pelo EPI em si, mas pelo uso real.
2. Saiba a hora certa de descartar
O descarte deve obedecer a fluxos operacionais padronizados, que precisam ser monitorados continuamente para a máxima eficiência. Desse modo, o primeiro passo é elaborar um guia sobre a validade e eficácia dos EPIs de acordo com práticas de segurança do trabalho.
Isso deve levar em consideração:
- a validade dos produtos;
- o número de reusos estabelecido pelo fabricante;
- o comprometimento da proteção devido a furos, rasgos e outros danos físicos;
- o tempo de uso contínuo.
Por exemplo, há máscaras N95 que podem ser reutilizadas, tendo em vista as instruções do fabricante.
Além de elaborar manuais de uso de EPIs, é fundamental orientar os funcionários a seguirem as recomendações. Assim, o equipamento é descartado apenas ao final do ciclo de vida em vez de precocemente.
Por sua vez, produtos fora da validade devem ser descartados mesmo que não tenham sido utilizados. Logo, é fundamental fazer um controle de estoque periódico para a prevenção de perdas e redução de riscos.
3. Mantenha-se protegido durante o manuseio
Quem manuseia os descartes perigosos precisa proteger-se com EPIs bastante resistentes. Afinal, essas pessoas estão expostas a locais e recipientes nos quais se concentram materiais de riscos químicos, físicos, biológicos ou radioativos. Então, as chances de contaminação são muito maiores.
Veja alguns riscos da manipulação de descartes contaminados perigosos e a forma de se proteger contra eles:
- contaminação ocular — uso de óculos de proteção com boa vedação ou faceshield;
- transmissão infecciosa por gotículas — são partículas maiores de secreções respiratórias, que demandam o uso de máscaras cirúrgicas comuns;
- transmissão infecciosa por aerossóis — a manipulação deve ser feita com o uso de máscaras N95.
No entanto, é muito comum a sobreposição de exposição a riscos biológicos com riscos físicos e químicos. Isso pode exigir que os profissionais responsáveis pela gestão de resíduos utilizem máscaras com filtros a partículas ainda menores do que os aerossóis.
Quem manuseia materiais tipo 1 também precisa de uma proteção das mãos por materiais resistentes, como luvas de borracha mais espessas, porque há maior exposição a atrito e estresse mecânico.
Já o calçado deve proteger os pés contra a queda de materiais potencialmente perigosos e o impacto de objetos pesados. Em alguns casos específicos, outros equipamentos podem ser necessários, como:
- protetores auriculares (contra riscos auditivos);
- cintos de segurança (trabalho em altura);
- macacões descartáveis (exposição a microrganismos altamente patogênicos ou a vapores de produtos químicos irritantes para a pele).
4. Conheça os locais de coleta
Todo o EPI usado é considerado um material contaminado. Portanto, a definição do local de descarte depende daquela classificação que explicamos anteriormente. Os de classe II não são considerados perigosos, então há, geralmente, uma maior diversidade de locais de coleta.
Porém, para os materiais de classe I, há poucos pontos de descarte. Em alguns municípios menores, pode não haver nenhum. Então, é necessário descartá-los em outra cidade.
É importante frisar que é preciso haver um cuidado especial com o transporte, que deve ser feito em recipientes e baús com excelente vedação. Caso contrário, pode haver contaminação no trajeto. Geralmente, os estabelecimentos contratam empresas especializadas em gestão de rejeitos especiais.
5. Oriente sua equipe sobre os procedimentos
Garanta que toda a equipe esteja bem informada sobre os procedimentos corretos para descartar EPI contaminado e treine seus colaboradores regularmente, explicando cada etapa do processo e destacando a importância de seguir as normas.
Forneça materiais educativos, como manuais e vídeos demonstrativos, e realize workshops práticos para fixar o conhecimento. Aproveite para reforçar a necessidade de usar EPIs adequados durante o manuseio dos descartes, evitando, assim, contaminações.
Com essas ações, você cria uma cultura de segurança e responsabilidade, em que cada membro da equipe entende seu papel na prevenção de infecções e na proteção de todos no ambiente de trabalho.
6. Siga as normas regulamentadoras
Essas normas orientam sobre as melhores práticas e, ao mesmo tempo, ajudam a manter um ambiente de trabalho seguro e em conformidade com a legislação. Desse modo, é necessário aplicá-las para evitar multas e, mais importante, proteger a saúde de todos.
As principais normas que devem ser seguidas são:
- NR 32 — Segurança e Saúde no Trabalho em Serviços de Saúde;
- NR 6 — Equipamentos de Proteção Individual (EPI);
- RDC ANVISA 222/2018 — Regulamento Técnico para o Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde;
- CONAMA 358/2005 — trata do gerenciamento de resíduos de serviços de saúde;
- ABNT NBR 9191 — sacos plásticos para acondicionamento de lixo.
7. Registre o processo de descarte
O registro serve para manter um controle rigoroso e garantir a conformidade com as normas de segurança. Para realizá-lo, documente todas as etapas do processo, desde a coleta até a destinação final.
Lembre-se de incluir detalhes como datas, quantidades, tipos de EPIs descartados e condições em que estavam, pois isso facilita auditorias e garante transparência nas operações.
Aliás, o registro contínuo permite identificar padrões e áreas que precisam de melhorias. Ainda há o fato de que, ao documentar cada etapa, você também promove a responsabilidade entre os colaboradores, reforçando a importância de seguir os procedimentos corretamente.
Qual é o impacto do descarte incorreto de EPIs?
O descarte incorreto de EPIs contaminados pode ter consequências graves tanto para a saúde pública quanto para o meio ambiente. Isso porque os resíduos contaminados expostos inadequadamente podem propagar doenças infecciosas, colocando em risco a saúde de trabalhadores, pacientes e da comunidade em geral.
Também, materiais perigosos podem contaminar solos e águas, afetando ecossistemas e causando danos a longo prazo. Outro ponto é o risco de acidentes durante o manuseio e transporte dos resíduos, que pode levar à exposição direta a agentes biológicos, químicos e radioativos.
Além do mais, o descarte inadequado também pode resultar em multas e sanções para a instituição, prejudicando sua reputação e estabilidade financeira.
Para evitar que esses problemas aconteçam, é indispensável não misturar resíduos perigosos com lixo comum, não deixar de usar EPIs adequados durante o manuseio e nunca descartar materiais contaminados em locais não apropriados.
Como as parcerias com órgãos de gestão de resíduos melhoram o descarte de EPIs?
Todo município precisa ter um plano de gestão de resíduos sólidos, o qual inclui uma política para descartes contaminados, como os EPIs usados. A sua execução, porém, pode ser feita por serviços públicos ou privados, sendo que cada prefeitura tem a autonomia de escolha.
A Política Nacional de Resíduos Sólidos estabelece a corresponsabilização de todos os envolvidos no descarte adequado do lixo. Portanto, em geral, há diversos programas de parcerias disponíveis.
Os rejeitos de classe I devem ser manipulados apenas por profissionais da cadeia de descarte. É possível estabelecer parcerias que envolvem, inclusive, a terceirização do manejo do rejeito. Assim, a empresa contratada pode ficar responsável por todas as atividades. Em outros, a parceria pode abranger apenas a coleta, o transporte intermediário e a destinação final.
Muito mais do que apenas seguir protocolos, o descarte correto de EPI contaminado é uma questão de garantir a segurança de todos no ambiente hospitalar e preservar o meio ambiente. Vale lembrar que cada ação reflete diretamente na proteção e no bem-estar coletivo. Por isso, não deixe de seguir as práticas que listamos ao longo deste post.
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