Contaminação hospitalar é aquela adquirida pelo paciente, acompanhante ou profissional dentro dos hospitais, ou em unidades de atendimento. O conceito abrange pacientes que estejam em alta, mas contraíram a infecção enquanto estiveram nas dependências do estabelecimento de saúde.
É importante que os profissionais da saúde sejam conscientizados para seguir medidas que auxiliem no controle de infecção hospitalar, pois com elas é possível evitar um grande número de mortes e complicações. Os pacientes mais afetados são aqueles em unidades de terapia intensiva (UTI), pois além de estarem em estado de saúde mais frágil, dependem de respiradores, cateteres e demais procedimentos invasivos.
Neste artigo, contamos com a ajuda de Ronaldo Araújo, Engenheiro de Segurança do Trabalho, para abordar a importância de combater a contaminação hospitalar. Confira!
Por que é fundamental combater a contaminação hospitalar?
Existem diversos motivos pelos quais incorporar medidas para combater a contaminação hospitalar é essencial. Explicamos algumas delas em mais detalhes a seguir.
Evita a proliferação de infecções
O ambiente hospitalar é propício à proliferação de infecções. Afinal de contas, é um local destinado a tratar pessoas doentes, que de alguma forma sofrem de determinado tipo de desequilíbrio em seu organismo.
O próprio sistema imunológico dos pacientes tende a ficar enfraquecido quando eles padecem de alguma enfermidade. Logo, o risco de contaminação hospitalar aumenta — tanto de colaboradores para pacientes quanto entre um paciente e outro.
Incluir medidas de controle no hospital permite reduzir a proliferação de infecções e garante-se melhores condições para os profissionais trabalharem e para os pacientes realizarem os tratamentos.
Impede o aumento de custos
Quando há proliferação, o tempo de internação precisa ser aumentado. Afinal, será preciso tratar a infecção, cada vez mais resistente aos antibióticos. Tal quadro representa aumento de custos para o hospital.
Além disso, muitas vezes se perde a oportunidade de atender um novo paciente devido à indisponibilidade de leitos. Com as boas práticas, esse cenário é evitado e o hospital se torna capaz de oferecer um atendimento de qualidade com custos menores.
Evita danos à imagem
O pior cenário é quando o paciente vem a óbito após ter contraído uma infecção dentro do hospital. Isso compromete ainda mais a imagem da instituição, colocando em risco sua própria sustentabilidade ao longo do tempo.
Sem falar nos casos em que é preciso responder judicialmente ao fato e pagar indenizações. Para que isso não aconteça, é fundamental implementar ações de higienização e de controle de infecções.
Garante boas condições para funcionários e pacientes
A contaminação hospitalar também é prejudicial aos estabelecimentos de saúde quando ela afeta os profissionais do ramo. É que, nesse caso, eles ficam impedidos de trabalhar, pois precisam passar por tratamento até se recuperarem.
Assim, há déficit no quadro de colaboradores, o que pode levar à sobrecarga dos demais e aumentar os riscos de falhas durante a execução de procedimentos. Além disso, segundo dados da OMS, pelo menos 30% das infecções hospitalares podem ser evitadas, desde que medidas preventivas sejam adotadas.
Estima-se que anualmente 1 milhão de mortes sejam ocasionadas por infecção dentro do hospital ou por consequências dela.
Quais os desafios relacionados ao combate à contaminação hospitalar?
O controle de infecção hospitalar é uma intenção extremamente delicada de alcançar e com considerável complexidade, proporcionando uma série de desafios, explica Ronaldo. As razões disso são inúmeras, principalmente quando consideramos esse tipo de controle em unidades de terapia intensiva e de cirurgia.
Aumento da resistência antimicrobiana
“Um dos pontos de maior observação nesse sentido é a resistência antimicrobiana”, destaca nosso especialista. Ronaldo explica que:
“A resistência antimicrobiana acaba aumentando naturalmente por conta do uso dos antibióticos, ou ainda por uso excessivo deles. Quando isso acontece, as cargas microbianas ganham maior resistência a tratamentos futuros e isso pode contribuir para prejudicar o combate à contaminação hospitalar”.
Alta rotatividade de pacientes
Mais um ponto de atenção é a desinfecção do ambiente por meio da limpeza hospitalar. “A alta rotatividade de pacientes nesses locais dificulta o controle de contaminação, e o procedimento de limpeza deve ser feito de modo rigoroso, utilizando produtos químicos específicos” ressalta Ronaldo.
Ele ainda explica que, somado a isso, tem-se uma variável que exige muita acurácia para um bom controle: o fluxo de ar controlado nas unidades de terapia. É preciso fazer uma boa separação, inclusive, entre os pacientes que são imunocomprometidos para combater a contaminação hospitalar.
Uso adequado de EPIs
“As medidas preventivas como o uso de EPIs devem ser sempre tomadas para que não haja acidentes de trabalho, pois em um hospital isso é ainda mais complicado”, destaca nosso especialista.
Nesse sentido, ele indica realizar campanhas de conscientização entre os funcionários, as quais devem ser feitas visando sempre o cumprimento da NR-32, aplicável a ambientes hospitalares.
Quais são as medidas para evitar contaminações em hospitais?
Abaixo, listamos medidas para combater a contaminação hospitalar dentro da sua instituição. Acompanhe!
1. Utilize equipamentos de proteção
Nos hospitais, os maiores riscos não são aqueles associados a acidentes físicos, mas sim aos riscos de contaminação. O contato com vírus, bactérias, fungos e substâncias químicas deixa os profissionais suscetíveis a doenças.
Vale lembrar que faz parte da rotina dos profissionais da saúde manipular produtos químicos e fluidos corporais e ter o contato direto com pessoas infectadas. Ao manusear, visitar ou inspecionar pacientes, é mandatório que os colaboradores — como médicos e enfermeiros — utilizem EPIs (equipamentos de proteção individual) como:
- luvas: utilizar ao entrar em contato com os pacientes, em procedimentos gerais e procedimentos cirúrgicos. Recomenda-se descartar após o uso;
- máscaras: usar quando em contato com pacientes, para procedimentos gerais e também procedimentos cirúrgicos. Também devem ser substituídas e descartadas após o uso;
- aventais: o uso de roupas adequadas protege contra respingos e substâncias. Devem ser devidamente descartadas ou higienizadas após utilização;
- óculos de proteção: usar para proteger os olhos dos colaboradores de excreções ou secreções durante os procedimentos. Precisa ser devidamente higienizado e esterilizado após a utilização;
- toucas: aconselha-se o uso para a proteção contra componentes contaminantes e para evitar a queda de cabelos na realização de procedimentos. Devem ser descartadas logo após o uso.
É preciso sublinhar que os EPIs ganham ainda mais importância em um contexto de pandemia, como a do novo coronavírus. Afinal, tais equipamentos criam uma barreira de proteção contra o acesso do vírus no organismo, evitando que a doença se espalhe e leve o estabelecimento de saúde à sobrecarga. Sem contar que vidas podem ser perdidas devido ao quadro infeccioso para o qual ainda não existe remédio nem vacina.
2. Use materiais descartáveis nos procedimentos
Os materiais de uso curto ou único reduzem o índice de contaminação hospitalar. Aliás, eles são muito importantes, pois auxiliam a proteção dos colaboradores e diminuem a propagação de bactérias e outros patógenos. Os materiais descartáveis contam com uma ampla gama de produtos, os mais utilizados são:
- seringas;
- toucas cirúrgicas;
- luvas cirúrgicas;
- algodão;
- gaze;
- máscaras cirúrgicas.
Lembre-se de que, assim como utilizar materiais descartáveis é importante, o descarte e o destino adequados também deve ser uma preocupação dos hospitais. Portanto, separe os materiais contaminantes, perfurocortantes e outros resíduos hospitalares do lixo comum para que eles tenham uma destinação correta.
3. Realize a higienização das mãos com frequência
Diariamente entramos em contato com superfícies, produtos e locais públicos, os quais podem apresentar contaminação. Por isso, é necessário higienizar as mãos repetidas vezes durante o dia. Nesse sentido, Ronaldo aponta que:
“Por incrível que pareça, uma das medidas mais simples e eficazes no combate às contaminações em hospitais é o ato de lavar as mãos. Essa atitude impede que haja a transmissão de patógenos tanto entre pessoas quanto entre pessoas e os utensílios usados em hospitais”.
Ou seja, a higiene adequada reduz drasticamente o índice de infecções e doenças infectocontagiosas. Esse cuidado é ainda mais importante em períodos de frio, pois são épocas de grande disseminação de vírus como o Influenza (causador da gripe), e as pessoas passam mais tempo em locais fechados.
Por falar nisso, que tal recordar como higienizar as mãos corretamente? Confira nosso passo a passo:
- lave as palmas com água e sabão;
- esfregue o dorso da mão;
- esfregue as articulações;
- lave os polegares;
- lave as pontas dos dedos e sob as unhas;
- lave os punhos;
- enxágue as mãos;
- seque com toalhas descartáveis.
O álcool em gel é um ótimo aliado para reduzir o número de microrganismos. No entanto, ele não remove as sujidades, apenas diminui a quantidade de micróbios. Portanto, o produto deve ser usado por colaboradores da saúde somente após a correta lavagem das mãos.
4. Mantenha o jaleco sempre limpo
Além da lavagem constante, lembre-se de não utilizar o jaleco fora do hospital, pois ao andar na rua com a vestimenta você pode contaminá-lo com diferentes patógenos que serão conduzidos para dentro do estabelecimento de saúde. Preste atenção, também, para não consumir alimentos utilizando o jaleco, pois além da possibilidade de sujá-lo, é possível contaminá-lo durante a refeição.
Cuidado ao transportar o jaleco — acondicione-o em recipiente específico no transporte entre a casa e o hospital. Lembre-se ainda de lavá-lo separadamente de outras peças. É preciso deixá-lo de molho em solução de água com água sanitária antes da lavagem, que deve ser feita com água e sabão. Por fim, deixe-o de molho novamente, mas agora em solução de água e álcool.
5. Esterilize os equipamentos antes de utilizar
Para equipamentos cirúrgicos ou aparelhagem não descartável, a esterilização é uma etapa necessária antes do uso. Verifique se todos os equipamentos utilizados em cirurgias e procedimentos foram devidamente higienizados. Os hospitais devem contar com uma área específica para esterilização de materiais.
“Obviamente, nenhum resíduo orgânico de um instrumento de um paciente deve ser levado a outro e isso só é conseguido por meio de um bom processo de esterilização”, explica Ronaldo.
O objetivo da esterilização é, portanto, livrar os equipamentos não descartáveis de vírus, fungos e bactérias. O procedimento deve seguir as seguintes etapas:
- destinação ao expurgo: área destinada à recepção de material sujo;
- preparação de materiais: identificar, inspecionar, selecionar e embalar separadamente para posterior esterilização;
- esterilização: limpeza de peças utilizando meios físicos ou químicos, respeitados os tempos e as classes de agressividade de cada item;
- distribuição dos materiais: depois de devidamente higienizados, os equipamentos devem ser enviados para os setores de uso.
6. Estabeleça medidas de higiene para o hospital
Toda equipe deve ser instruída sobre as boas práticas de higiene e manutenção do ambiente hospitalar. Logo, é importante estabelecer uma rotina de limpeza. Distribua lembretes e informativos de riscos e cuidados em todos os espaços.
Tão importante quanto estabelecer as medidas obrigatórias de limpeza é verificar se os colaboradores estão cumprindo devidamente as instruções. Organize workshops e cursos periódicos para lembrar da importância das medidas e como cuidados simples podem melhorar o controle de infecção hospitalar.
Uma dica extra é evitar visitar hospitais, acompanhado de bebês, crianças e idosos. Esse público é mais propenso à contaminação hospitalar, por isso, o cuidado deve ser redobrado. Respeite as normas de higiene e evite permanecer em locais fechados ou em contato com outras pessoas, quando não houver necessidade.
7. Monitore e avalie as práticas
Além de tomar todas as medidas preventivas necessárias contra as infecções hospitalares, é fundamental acompanhar e avaliar a extensão das práticas adotadas. Afinal, elas têm surtido efeito?
Para saber a resposta, os gestores hospitalares podem lançar mão dos softwares de gestão para a área da saúde. Tais ferramentas armazenam dados importantes, a partir dos quais é possível analisar a situação do ambiente hospitalar e tomar decisões que melhorem os processos e o atendimento dentro da instituição.
Qual a importância do uso adequado de EPIs?
“O uso de EPIs de forma contínua e adequada reduz drasticamente o risco de contaminação hospitalar”, explica Ronaldo. Nesse sentido, os funcionários da instituição são justamente as pessoas que têm contato com os diferentes pacientes internados e por isso, precisam utilizar esses equipamentos diariamente.
Para que essa medida seja aplicada de maneira consistente, Ronaldo aconselha sobre a necessidade de realizar programas de capacitação e conscientização contínua, por meio de palestras e treinamentos.
“Esse tipo de orientação ajuda a elevar o nível de consciência dos trabalhadores, reduzindo acidentes e infecções hospitalares”, explica ele. Contar com EPIs de qualidade e seguir as dicas de Ronaldo quanto aos equipamentos ajuda muito a minimizar os riscos de infecção.
Seja oriunda de vírus, bactérias ou fungos, a contaminação hospitalar é a maior causa de mortes em hospitais, logo, representa uma grande preocupação para pacientes que permanecem longos períodos internados, bem como para os que se encontram em quadros frágeis. Sendo assim, é muito importante adotar cuidados de controle de infecção hospitalar e verificar se as medidas cautelares estão sendo cumpridas.
Gostou do que leu? Agora, responda com sinceridade: seu hospital está preparado para evitar as temidas infecções? Confira o guia completo de equipamentos de proteção para o profissional da saúde e entenda melhor a importância dos EPIs para o combate à contaminação hospitalar!
Excelente comentário, ou melhor, artigo. Certamente irei repassá-lo para outros colegas prevencionistas, se não se importarem, claro!
Repito: excelente artigo.
Amei o post 🙂