Em tempos onde a preocupação com a saúde nunca foi tão evidente, especialmente diante de pandemias globais e surtos de doenças infecciosas, a biossegurança hospitalar assume um papel fundamental.
Compreender essas medidas é crucial para assegurar que os serviços de saúde sejam realizados de maneira segura e eficiente, contribuindo para a proteção da saúde pública e a redução de complicações que possam surgir em ambientes hospitalares.
Pensando em entender melhor o conceito de biossegurança hospitalar e qual a sua importância, conversamos com a enfermeira Fernanda Carmone. Continue a leitura para conferir!
O que é biossegurança hospitalar?
De maneira geral, podemos definir a biossegurança hospitalar como uma série de normas que devem ser aplicadas na rotina profissional de quem trabalha nesse espaço.
Médicos, enfermeiros, profissionais da limpeza, técnicos de laboratório e tantos outros trabalhadores do local precisam conhecer e seguir normas específicas que visam minimizar riscos que possam colocar a saúde deles e dos demais em risco.
A biossegurança determina quais EPIs (Equipamentos de Proteção Individual) são necessários em cada tipo de procedimento ou atividade no hospital, além das práticas de segurança do trabalho que devem ser cumpridas. Tudo isso para evitar que acidentes físicos, químicos ou biológicos aconteçam.
Qual o objetivo?
De acordo com a enfermeira Fernanda Carmone. o objetivo principal dessa prática é proteger pacientes, profissionais de saúde e visitantes de possíveis contaminações e doenças infecciosas, garantindo um ambiente seguro e controlado.
“Isso envolve a implementação de práticas e medidas que evitem a transmissão de agentes infecciosos e outros riscos biológicos que possam causar infecções, contaminações ou doenças”, orienta.
De forma específica, a biossegurança hospitalar busca:
Prevenir infecções
Evitar a transmissão de infecções entre pacientes, profissionais de saúde e visitantes através de práticas adequadas de higiene, uso de EPIs, esterilização de materiais e descontaminação de ambientes.
Garantir a segurança dos profissionais de saúde
Proteger os trabalhadores da saúde da exposição a agentes biológicos perigosos, como bactérias, vírus e fungos, por meio de treinamentos, protocolos de segurança e monitoramento contínuo.
Proteger os pacientes
Reduzir o risco de infecções hospitalares, garantindo que os procedimentos médicos e cirúrgicos sejam realizados em condições seguras e higienizadas.
Gerenciamento adequado de resíduos
Assegurar que os resíduos hospitalares, que podem ser infectantes, químicos ou radioativos, sejam manuseados, tratados e descartados de maneira segura para evitar contaminação ambiental e riscos à saúde pública.
Promover um ambiente seguro
Criar um ambiente hospitalar seguro e saudável para todos, com políticas e práticas que abordem todos os aspectos relacionados ao controle de riscos biológicos.
Portanto, a biossegurança hospitalar é fundamental para manter a integridade da saúde pública dentro dos ambientes de saúde, garantindo que os serviços prestados não comprometam a saúde dos envolvidos.
O que diz a legislação sobre biossegurança hospitalar?
No Brasil, a biossegurança hospitalar é regulamentada por uma série de leis, normas e resoluções que visam garantir a segurança de pacientes, profissionais de saúde e visitantes, prevenindo a propagação de doenças e controlando os riscos biológicos. Alguns dos principais documentos legais e regulamentares sobre biossegurança hospitalar incluem:
Lei nº 8.080/1990 (Lei Orgânica da Saúde)
Estabelece o Sistema Único de Saúde (SUS) e define a saúde como um direito de todos e dever do Estado, estabelecendo a promoção, proteção e recuperação da saúde como objetivos do SUS. Embora não trate especificamente de biossegurança, ela cria a base legal para a regulamentação e fiscalização das atividades de saúde.
Norma Regulamentadora NR-32
Estabelecida pela Portaria nº 485/2005 do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), essa norma regula a segurança e saúde no trabalho em serviços de saúde, incluindo medidas de prevenção de acidentes e doenças relacionadas à exposição a agentes biológicos, como o uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), práticas de descontaminação, e manipulação segura de materiais biológicos.
Resolução RDC nº 50/2002 da ANVISA
Estabelece diretrizes para o planejamento, programação, elaboração e avaliação de projetos físicos de estabelecimentos assistenciais de saúde. Essa resolução inclui normas sobre a infraestrutura necessária para garantir a biossegurança, como áreas específicas para desinfecção, esterilização e descarte de resíduos.
Resolução RDC nº 306/2004 da ANVISA
Trata do gerenciamento dos resíduos de serviços de saúde (RSS), determinando normas para o manejo seguro desses resíduos, minimizando os riscos à saúde pública e ao meio ambiente.
Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº 222/2018 da ANVISA
Atualiza e complementa a RDC 306/2004, com diretrizes sobre o manejo, tratamento e disposição final dos resíduos de serviços de saúde, reforçando a importância do controle e tratamento adequado desses materiais.
Lei nº 9.431/1997
Torna obrigatória a manutenção de programas de controle de infecções hospitalares em estabelecimentos de saúde. Essa lei é complementada pela Portaria nº 2.616/1998, que estabelece as diretrizes para a prevenção e controle de infecções hospitalares.
Essas regulamentações exigem que os hospitais implementem práticas de biossegurança para proteger tanto os profissionais quanto os pacientes, incluindo o uso de EPIs, vacinação de trabalhadores da saúde, programas de controle de infecções hospitalares, e manejo adequado de resíduos hospitalares.
Além disso, as instituições de saúde são fiscalizadas regularmente pela ANVISA e outros órgãos competentes para garantir o cumprimento dessas normas.
Quais são os principais itens de proteção utilizados na biossegurança hospitalar?
Entre os principais itens de proteção utilizados na biossegurança hospitalar estão:
- luvas;
- máscaras;
- aventais e;
- óculos de proteção.
As luvas são essenciais para evitar o contato direto com fluidos corporais e superfícies potencialmente contaminadas, protegendo tanto os pacientes quanto os profissionais de saúde. Já as máscaras são projetadas para filtrar partículas infecciosas e proteger as vias respiratórias contra aerossóis que podem conter patógenos.
Os aventais proporcionam uma barreira adicional, protegendo o vestuário e a pele do contato com fluidos e substâncias contaminadas. Os óculos de proteção são usados para proteger os olhos contra respingos e outras substâncias perigosas que podem causar infecções ou danos.
Cada um desses itens desempenha um papel na redução dos riscos de contaminação e acidentes, ajudando a garantir que os profissionais de saúde possam realizar suas funções de forma segura e eficaz.
Por que o conceito é importante no momento?
Há muitos anos que a comunidade médica e científica vem alertando o mundo inteiro sobre uma possível pandemia que teria o poder de parar a vida das pessoas em todo o planeta. E, no final de 2019, foi justamente isso que começou a acontecer na China e se espalhou pelo mundo inteiro com a epidemia do coronavírus.
São em momentos críticos como este que as normas de segurança fazem toda a diferença, pois são esses protocolos já usados no dia a dia que serão fundamentais para conter a proliferação de doenças causadas por vírus, por exemplo.
Usando o exemplo do coronavírus, de fácil transmissão por meio de gotículas que podem ser expelidas pelo portador do vírus ao falar, tossir ou espirrar, as normas de biossegurança que envolvem o uso de máscaras adequadas, higienização correta e constante das mãos e do nariz são algumas das ferramentas usadas para conter o avanço do problema.
Sem o cumprimento desses protocolos de segurança, os profissionais da saúde se infectariam com muito mais facilidade, causando um colapso ainda maior nos sistemas de saúde. Por isso, seja em momentos críticos ou não, a biossegurança é a responsável por preservar a vida dos profissionais e de toda a sociedade.
De acordo com a enfermeira Fernanda Carmone, com o aumento de doenças infecciosas e a crescente resistência a antimicrobianos, práticas eficazes de biossegurança são essenciais para controlar surtos e proteger a saúde pública.
“Ao implementar medidas rigorosas de controle de infecção e gestão de resíduos, a biossegurança ajuda a prevenir a transmissão de doenças dentro do ambiente hospitalar, garantindo que os cuidados sejam prestados de forma segura e reduzindo o risco de infecções associadas aos cuidados de saúde”, avalia.
Como a biossegurança deve ser adotada?
Para que as práticas de biossegurança funcionem, gestores e colaboradores devem trabalhar em conjunto. De forma geral, os pilares que ajudam na disseminação de uma rotina de trabalho pautada nas boas práticas são:
- gestão eficiente;
- uso dos equipamentos de segurança.
- práticas corretas de limpeza e higienização.
Para que as regras de biossegurança possam ser adotadas, tudo deve começar pela área de gestão do hospital. São os líderes que devem avaliar os riscos e definir o que deverá ser feito e quais equipamentos de segurança devem ser fornecidos a cada profissional.
O próximo passo diz respeito ao uso dos equipamentos de segurança, o que significa que todo colaborador precisa receber informações e treinamento adequado antes mesmo de começar a trabalhar. E, claro, sempre que necessário, reciclagens e novas informações devem ser comunicadas claramente aos trabalhadores também.
Por último, é importante deixar claro o papel fundamental da limpeza correta e higienização de cada área do hospital. A equipe responsável por isso deve trabalhar de acordo com um planejamento controlado e monitorado diariamente. Devem ser respeitadas regras da vigilância sanitária e utilizados produtos e equipamentos adequados para a função.
Somente levando em consideração todos os cuidados acima é que uma política de biossegurança poderá ser implementada com sucesso em um hospital. Organização, planejamento, disponibilização dos EPIs corretos e treinamento adequado são essenciais também.
Quais as vantagens da prática correta?
O maior benefício de se colocar normas de biossegurança em prática, sem dúvidas, é a chance de se preservar a saúde e a vida das pessoas. Mas, a partir disso, muitos outros desdobramentos em benefício da sociedade como um todo também são conquistados:
- diminuição dos riscos de acidentes de trabalho nos hospitais;
- preservação da saúde dos profissionais e pacientes;
- menores riscos para o meio ambiente.
De acordo com Fernanda Carmone, as práticas de biossegurança protegem a saúde dos pacientes, prevenindo infecções e complicações adicionais que podem ocorrer devido à exposição a patógenos.
“Ao minimizar a incidência de infecções associadas aos cuidados de saúde, as práticas de biossegurança contribuem para uma recuperação mais rápida do paciente e uma redução dos custos hospitalares”, revela.
Ela ainda reforça que a biossegurança protege os profissionais de saúde ao reduzir o risco de exposição a agentes infecciosos e acidentes relacionados ao trabalho.
“Isso melhora a segurança e o bem-estar dos funcionários e aumenta a eficiência operacional do hospital, evitando interrupções nos serviços devido a surtos de infecções”, considera.
Carmone ainda reforça que a conformidade com as regulamentações e normas de saúde também é melhorada, promovendo a confiança dos pacientes e da comunidade no ambiente hospitalar, o que é fundamental para a reputação e o sucesso de qualquer instituição de saúde.
Do ponto de vista do empregador, sempre que um trabalhador precisa se ausentar por conta de acidentes de trabalho, é inegável que a empresa tem a perder com isso. Afinal, dependendo da situação e do período de ausência, é preciso contratar temporariamente e treinar outro colaborador.
Novamente, em uma situação de epidemia causada por vírus de fácil transmissão, como o coronavírus e mesmo a gripe, um profissional infectado, sem querer e sem saber, pode transmitir o problema para um paciente saudável quando os EPIs adequados não são usados.
Nesse cenário, o descarte correto de materiais, que podem conter agentes biológicos contaminados, também é uma prática regulamentada pela biossegurança. Ou seja, de fundamental importância para a preservação do meio ambiente.
Quais os riscos quando não existem práticas de biossegurança?
Biossegurança é um assunto sério e não é por acaso que no Brasil existe, inclusive, legislação específica sobre o tema. Os riscos hospitalares podem ser divididos nas seguintes categorias:
Aumento de Infecções Hospitalares
Sem práticas adequadas de biossegurança, a propagação de infecções hospitalares (ou infecções relacionadas à assistência à saúde) torna-se mais provável. Essas infecções podem ser causadas por bactérias, vírus, fungos e outros microrganismos presentes no ambiente hospitalar.
Exposição a agentes patogênicos
Profissionais de saúde, pacientes e visitantes podem ser expostos a agentes patogênicos perigosos, como HIV, hepatite B e C, tuberculose, entre outros. A falta de equipamentos de proteção individual (EPIs), vacinação e procedimentos seguros de manejo de materiais biológicos aumenta esse risco.
Contaminação cruzada
A ausência de medidas de biossegurança pode levar à contaminação cruzada, onde microrganismos são transferidos de uma pessoa ou superfície para outra. Isso pode ocorrer através do uso inadequado de instrumentos, superfícies contaminadas ou mãos não higienizadas.
Resistência antimicrobiana
A falta de controle e prevenção de infecções pode contribuir para o surgimento e a disseminação de microrganismos resistentes a antibióticos. Isso dificulta o tratamento de infecções, aumentando a morbidade, mortalidade e os custos de saúde.
Riscos ocupacionais para profissionais de saúde
Sem as práticas adequadas, os profissionais de saúde ficam vulneráveis a acidentes com perfurocortantes, exposição a aerossóis contendo agentes infecciosos e outros riscos ocupacionais que podem resultar em doenças graves ou até fatais.
Manejo inadequado de resíduos de saúde
A falta de gerenciamento adequado dos resíduos hospitalares, como agulhas, seringas, materiais contaminados e produtos químicos, pode levar à contaminação ambiental e representar um risco à saúde pública, incluindo a disseminação de doenças e a poluição do solo e da água.
Impacto negativo na saúde pública
A disseminação de infecções dentro de hospitais pode se espalhar para a comunidade, colocando em risco a saúde pública em geral, especialmente em surtos de doenças infecciosas.
Perda de confiança e credibilidade
Instituições de saúde que não aderem a práticas de biossegurança correm o risco de perder a confiança dos pacientes e da comunidade, afetando sua reputação e a eficácia do sistema de saúde.
Analisando a lista acima é possível ter uma ideia dos riscos diários a que um profissional que trabalha na área da saúde está exposto. Sem procedimentos pautados em regras e padrões, uma das premissas da biossegurança, é impossível trabalhar em um ambiente com tantos fatores que podem trazer problemas sérios para a saúde de qualquer pessoa.
Agora que você já entende um pouco mais sobre o que é biossegurança hospitalar e a importância da aplicação na rotina hospitalar, saiba que é papel dos gestores garantir que todos os funcionários tenham acesso a treinamentos claros e eficientes que vão ajudá-los a proteger as próprias vidas.
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